quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Afinal, quem é que precisa de lições de civilidade?


  O Direito foi criado para manter a ordem social e solucionar conflitos, ainda que para isso seja preciso afastar alguém da sociedade, mandando para a prisão.
  Essa função, muitas vezes, passa para as pessoas, a ideia de que juízes, advogados, promotores e delegados são diferentes dos humanos, como se tivessem superpoderes ou algo assim.
  Tal sensação, embora não corresponda à realidade, é até compreensível por causa de todo o cenário que envolve o Poder Judiciário.
  O que é difícil de entender é o próprio operador do Direito acreditar que é o Batman ou algum super herói do gênero.
 O mais interessante, é que esse alter ego parece aflorar, com maior frequência, naqueles que têm a função de acusar.
  Algumas posturas realmente são complicadas de explicar.
 Além dos acontecimentos que vão parar na mídia envolvendo promotores, vivencio o dia-a-dia dos processos, das audiências, sinto isso na pele.
  É claro que existem profissionais que exageram em todas as profissões mas, no meio jurídico, parece que os promotores lideram o ranking de atitudes, digamos, inusitadas.
  Quando começaram a ler para mim a notícia do entrevero no Mackenzie (clique aqui), envolvendo aluna e professor, ao final do primeiríssimo parágrafo, eu disse: certeza que é promotor.
  E depois eu pensei: precisa disso?
 Precisa sair no jornal algo que deveria ser resolvido dentro da própria faculdade, expondo várias pessoas?
 Um episódio lamentável dentro de uma instituição de ensino, onde o professor deveria dar o exemplo!
 É inimaginável ameaçar um aluno de prisão por questionar métodos pedagógicos!
  E no fim das contas, o rolo não envolveu um só, mas dois promotores, conforme noticiaram.
  Além da educação duvidosa do mestre que teria batido a porta na cara da aluna, a tolerância é algo que não existe.
  A impressão que dá é a de que promotores têm verdadeira mania em querer prender os outros, como se ninguém mais pudesse fazer isso.
  Todo mundo pode prender alguém que esteja em situação de flagrante delito. Qualquer um pode fazer isso.
  Mas o promotor parece achar que vindo dele, a prisão é mais “especial”, que a profissão dele muda alguma coisa, sei lá.
  Esta semana tive a infelicidade de quase sair surda de uma audiência, após passar praticamente uma hora na presença de uma promotora que, se não tiver algum problema de audição que justifique a altura de sua fala, certamente imagina que está declamando para o povo de Roma, lá de dentro do Coliseu, sem microfone, ansiosa para que os leões comam vivos os gladiadores e que todos morram com requintes de crueldade.
  A pessoa esquece que presta um serviço público e que aqueles envolvidos no processo são seres humanos.
  Serviço público, diga-se, que não se resume a “colocar bandido na cadeia”. Até porque, quem decide isso é o juiz, e não o promotor.
  Aliás, essa é uma coisa que muita gente não sabe... Promotor não decide nada, promotor palpita. Quem decide é o juiz, o desembargador, o ministro... o promotor, nunca. Promotor pede.
  Promotor de Justiça deve, como diz o nome, promover a justiça e não a discórdia, a balbúrdia dentro de uma sala de audiência, ou fora dela, dando voz de prisão à toa por aí. Deve saber, no mínimo, portar-se; ter educação, ao menos.
  Deve manter o espírito conciliador e não comportar-se como se estivesse na época da inquisição. Deve buscar contribuir para solucionar conflitos, e não para criar outros. Deve respeitar o advogado, o acusado, a vítima, o juiz, os funcionários do gabinete e, principalmente, a sociedade que, inclusive, paga seu salário gordinho.
  Já foi o tempo em que cara feia e grito assustavam alguém nesse mundo ou resolviam alguma coisa.
  Muitos acreditam que têm uma fama a zelar mas, se realmente tivessem alguma noção de sua “fama”, tenho certeza de que não seria motivo para se gabarem.
  Armar um verdadeiro circo, seja na sala de audiência, ou no plenário do Júri, é assumir um papel de aberração, fazendo de palhaços todos os demais presentes, em um espetáculo que ninguém gostaria de assistir.
  Usar de “prerrogativas” para ofender pessoas ou tentar intimidá-las, é apenas expor sua fraqueza de inteligência e humanidade.
 Pessoas que se colocam acima das outras não servem para prestar esse serviço ou qualquer outro.
 Os funcionários do Ministério Público, os juízes, enfim, profissionais que alteram ou interferem de alguma forma na vida dos outros, deviam ser submetidos a exames psicológicos periódicos porque, clara e notoriamente, existem pessoas absolutamente inaptas ao exercício da profissão, como aquela que eu tive o desprazer de encontrar, que se mantêm na atividade porque, neste país, a maior parte do povo se intimida com qualquer um que mostre a cara na televisão se passando por valente ou “linha dura”.
  No fim das contas, voltando à minha audiência, a caricata figura pensou que poderia determinar, aos berros, e com direito a dedo na cara e tudo, que o sujeito (meu cliente) assistisse à palestras de civilidade porque, como praticante de jiu jitsu, precisaria aprender a viver em sociedade (não me pergunte qual a relação entre uma coisa e outra, por favor. Jamais saberei responder).
  E eu, depois de olhar ao redor com muito cuidado e me certificar de que eu não estava ao vivo no programa do Datena, fiquei ali pensando que a pessoa precisava de um espelho enorme porque civilidade é algo que ela, definitivamente, não sabe o que é.
  E quantos sabem?!

        

3 comentários:

  1. hahahahahahaha, Você realmente AMA os promotores... Mais uma vez, muitíssimo bem escrito o texto, um pouco tendencioso, mas também, quem não é né?
    Do mesmo jeito que existem figuras como a dessa promotora que você teve o desprazer de encontrar, conheço N advogados que agem da mesma forma ou pior. Acredito que vá muito mais da pessoa do que do cargo...

    ResponderExcluir
  2. Existem profissionais terríveis em todas as áreas...

    ResponderExcluir
  3. Só para esclarecer, não tenho nada contra promotor... só questiono algumas atitudes...

    ResponderExcluir